Há casais que duram mais de 200 anos


Quando um casal atinge as bodas de ouro (50 anos de casamento) é algo que merece uma comemoração, quando completa 200 anos, merece algo que nem a imaginação pode oferecer, até porque o calendário só alcança as bodas de nogueira ou carvalho aos 80 anos de casamento.
Mas é verdade, há duzentos anos, no dia 28 de Janeiro de 1813, o editor Thomas Egerton tirava dos prelos o romance Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice), e um casal que se tornou famoso.
Nos três volumes dessa primeira edição, que esgotou em menos de um ano, não figurava o nome de Jane Austen (1775-1817), sendo a paternidade da obra atribuída à “autora de Sensibilidade e Bom-Senso (Sense and Sensibility), que fora publicado em 1811 sob o pseudónimo “Uma Senhora”.
Ao longo dos últimos dos últimos dois séculos, a história de Elizabeth Bennett e do orgulhoso Fitzwilliam Darcy nunca deixou de ser reeditada e calcula-se que ainda hoje venda anualmente no Reino Unido cerca de 50 mil exemplares, um número extraordinário, tendo em conta que não se trata de um novo livro de um romancista vivo e em voga.
O romance de Austen reentrou na moda em 1995, quando foi adaptado à televisão pela BBC, numa série com o popular Colin Firth no papel de Darcy e Jennifer Ehle no de Elizabeth.
No cinema, o primeiro a representar Darcy no cinema tinha sido Laurence Olivier, em 1940, num filme que a MGM produziu por sugestão de Harpo Marx, a quem não terão escapado os brilhantes dotes de humorista de Jane Austen, o casal mais recente foi Matthew Macfayden, que contracena com Keira Knightley no filme que Joe Wright realizou em 2005.
Além das suas várias adaptações ao audiovisual, o livro inspirou ainda um sem-número de obras literárias posteriores, incluindo, para citar apenas dois exemplos recentes, Death Comes to Pemberley (2011), no qual P. D. James, a decana das escritoras policiais inglesas, abala o idílio de Elizabeth e Darcy com um crime em família, ou o ainda mais provocatório Pride and Prejudice and Zombies (Orgulho, Preconceito e Zombies) (2009), de Seth Grahame-Smith, cujo título dispensa comentários.
Janet Todd, responsável pela edição de referência das obras de Jane Austen acha que o perene sucesso de Orgulho e Preconceito, sem dúvida o mais popular dos seis romances da autora, se deve à “história romântica da rapariga que apanha um homem da classe alta com fortuna, um macho arrogante que é vencido pelo amor”. É possível que tenha razão, mas não faltam outras e melhores razões para um leitor do século XXI se poder deliciar com este livro, como o incrível talento de Austen para criar
personagens memoráveis, a começar por Elizabeth Bennet, um espírito livre e vivíssimo numa sociedade e numa época em que a inteligência e a ironia não eram necessariamente vistos como atributos desejáveis numa jovem mulher.
A história de Orgulho e Preconceito é o relato de como o enlace de Elizabeth e Darcy vai sendo protelado pelo orgulho e pelos preconceitos de ambos. Na sua versão original, o livro chamava-se First Impressions (Primeiras Impressões), um título que também seria adequado, já que a trama desta espécie de sofisticada comédia de costumes tem origem no modo como os dois protagonistas se deixam iludir pelas suas primeiras impressões. É provável que o relativo êxito de Sense and Sensibility, tenha levado Austen a apostar num título que ecoasse o do livro anterior.
Mas se Elizabeth é uma criação inesquecível, Austen rodeia-a de uma extraordinária galeria de personagens secundários, incluindo uma vasta parentela, da mais chegada, a mãe (fútil e interesseira), o pai (divertido e negligente) e as quatro irmãs, até primos afastados, como o impagavelmente obtuso reverendo Collins.
Embora tenha começado a escrever cedo, Jane Austen só começou a editar nos seus últimos anos de vida. Entre 1811 e 1816 publicou cinco romances, Sensibilidade e Bom-Senso, Orgulho e Preconceito, A Abadia de Northanger, Mansfield Park e Emma, tendo deixado pronto um sexto, Persuasão, que sairia em 1918, um ano após a sua morte.


POR : Ricardo Pocinho

3 comentários:

  1. Suspiros.
    Eu acho que justamente esse livro é tão divino quanto é, não pela história romântica em si (que é claro que é maravilhosa, a superação de preconceitos de ambos os lados juntamente com um casamento estilo plebeia e príncipe). Mas justamente pelo o que é tratado acima: os demais personagens.
    As pequenas tramas que Austen cria e como ela desenvolve seus personagens é fantástico. Ela transforma pequenos personagens em pontos centrais da trama (e isso é algo que me fez gostar também muito de George Martin).

    Quando um autor consegue elaborar algo tão consistente onde os protagonistas permitem os coadjuvantes protagonizarem tornamos uma obra tão rica quanto a vida real. E isso... é sem palavras!

    liliescreve.blogspot.com

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  2. Belíssimo post!
    Uma obra grandiosa merece uma homenagem grandiosa. E só uma pessoa grandiosa seria capaz de fazer algo como Jane Austen fez. Ela era incrível e merece ser imortalizada por meio de suas obras!
    Beijão!

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  3. Uau, que texto, hein?!
    Muitas dessas coisas eu não sabia.
    Mas, confesso, sou louca para ler esse livro. Mesmo sendo um clássico eu ainda não o li, acho que tem que haver o momento para tal. Mas espero que seja em breve.
    A história deve ser realmente linda! Sei que muitos amam, então, certamente é.

    Beijos,
    Hannah - Secrets of Book.

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