Reflexões da Aione #03


Lendo A Abadia de Northanger de Jane Austen, me deparei com uma curiosa questão e que continua sendo relevante nos dias de hoje: a da oposição entre "boa literatura" e "má literatura". Catherine, a protagonista, é uma apaixonada leitora de romances góticos. Apenas por uma questão de situá-los, os romances góticos tinham por características o uso de cenários medievais e temáticas melodramáticas,  além de, muitas vezes, abordagens sobrenaturais e do uso da psicologia do terror, entre outros. 
A protagonista, aqui, apesar de amar esse tipo de leitura, sente-se envergonhada, já que esses livros não eram considerados como cultos na época. Inclusive, há uma cena em que há essa conversa e uma das personagens chega a dizer que tal literatura não era de boa qualidade. 
Encontrar isso na obra de Jane Austen foi uma surpresa para mim, uma vez que até hoje nos deparamos com essa questão. Notaram alguma semelhança entre os romances góticos e os tantos YA sobrenaturais que temos nos dias de hoje? Não apenas esses, como todos os YA, de um modo geral, são considerados como "leituras vazias" por muitos na atualidade, simplesmente por visarem o entretenimento como principal objetivo.

Claro, concordo que, de fato, é bom intercalarmos leituras assim com outras mais densas e reflexivas, exatamente para estimular a formação do nosso senso crítico e para exercitarmos nossa capacidade cognitiva e reflexiva. Porém, desde quando a literatura pode ser dividida em boa ou má? Em minha visão, não existe “má literatura”.
Ainda que alguns livros visem apenas o entretenimento, esse mesmo tipo de leitura é, muitas vezes, a grande responsável por angariar novos leitores apaixonados. Quantos não gostavam de ler e após terem um contato com algum livro de Literatura Fantástica, por exemplo, acabaram se apaixonando por esse hábito? Quantos, a partir desses livros, não resolveram buscar outros tipos de leitura, inclusive a de clássicos?
Além disso, uma leitura, mesmo tendo em vista apenas o entretenimento, pode propiciar um novo vocabulário e, também, auxiliar no desenvolvimento da criatividade, bem como do aprimoramento da escrita. Pode, portanto, um livro ser considerado de baixa qualidade?
Não tenho preconceito com livros. Há aqueles gêneros que me agradam mais do que outros, mas tento ler de tudo um pouco, exatamente porque acho que, para falar sobre algo, é necessário que conheçamos o assunto. Não posso falar mal de um romance de banca, por exemplo, se nunca li nenhum livro do gênero (no caso, já li e gostei dos que li. Não julguem o gênero pelas capas!). Por experiência própria, sei que livros de fantasia não me atraem muito, mas, paradoxalmente, minha série favorita é Harry Potter. E se alguém vier me dizer que os livros não são bons, vai ouvir um sermão. Aliás, aqui entramos em uma questão: gostar ou não de um livro não significa que ele seja bom ou não. A leitura de Lolita, de Vladimir Nabokov, foi, para mim, maçante. Mas não sou nem doida de dizer que o livro não seja bom, porque é e muito.
Resumo o post com a seguinte afirmação: ainda que existam gostos diferentes, que livros possam desagradar algumas pessoas, literatura nenhuma pode ser considerada de baixa qualidade, pois todo e qualquer tipo de leitura tem seus benefícios. Se alguém considerar leituras que visam apenas o entretenimento como de baixa qualidade, me arrisco a dizer que pessoas assim não sabem aproveitar bons momentos de diversão e distração, uma vez que se prendem demais às regras e ao pseudo-requinte literário. Afinal, bom leitor, para mim, é aquele que de tudo lê e sabe extrair de cada livro seu proveito, e não aquele que somente lê o que grandes críticos afirmam ser de boa qualidade. Se, em algum momento, eu quero uma leitura apenas para me divertir, é isso que lerei e nada mudará minha mente.

É primordial que mantenhamos nossa mente aberta, tanto para conhecermos diferentes livros e estilos como, e principalmente, para respeitarmos os gostos que divergem dos nossos. Se algo te desagradou, pode ter certeza que, por outro lado, agradou e muito a alguém diferente de você. Não ofenda o gosto e a opinião de outra pessoa, simplesmente por ser diferente da sua. O mundo é feito de diferenças e é imprescindível que saibamos conviver com elas.

6 comentários:

  1. Palmas pra você e essa exposição!

    Pra mim não existe boa ou má literatura. E se um livro produziu emoções em você, te fez chorar, grudar, rir e etc valeu a pena! A literatura é pra produzir catarse no leitor e se não produz de alguma maneira e nem te fez pensar, criticar ou refletir então você, como leitor, não alcançou o objetivo pretendido. E se você não alcançou, nem todos podem ter tido a mesma impressão que você.

    Parabéns!!!

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  2. Mi, que post incrível! A Jane Austen sempre consegue abordar temas universais e atuais, não é mesmo? A semelhança com o que vivenciamos hoje com o Y.A. sobrenatural, principalmente é realmente perceptível, os julgamentos feitos com relação a esse tipo de leitura são bem constantes, me pergunto se todo livro precisa ser rico em influência de caráter, é como um filme, você escolhe alguns para pensar e refletir, mas também escolhe aquelas comédias ou romances bem leves para rir e se distrair, porque teria que ser diferente com os livros? Gosto é gosto, e isso não se discute, ponto ^^

    Parabéns pelo texto!

    Beijos

    Pah, Livros & Fuxicos

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  3. Tem lá seus livros polêmicos que eu adoro ler, não vejo problemas em sempre diversificar um pouco, ler sempre é bom, não é mesmo.

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  4. Adorei o texto. Concordo contigo, todo livro tem sempre algo do bom para alguém! E o que é bom para mim, nem sempre é para o outro: respeito é tudo.

    beijo

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  5. Lindo o texto!! Infelizmente, o preconceito contra os YA é amplo, tão amplo como o próprio gênero. O que as pessoas não entendem é que por mais que um livro tal seja classificado como literatura fantástica, não significa que não passem grandes mensagens, por mais clichês que sejam. Por exemplo, Jogos Vorazes, que está na moda atualmente. Literatura "fantástica", mas é (praticamente) impossível lê-lo sem perceber as duras críticas ao nosso modo de vida, e expõe uma realidade que pode parecer "maluca" mas é ao mesmo, infelizmente, bastante possível. E mesmo que o livro não contenha uma grande mensagem, nem uma revelação do universo, não significa que não valha a pena lê-lo, até porque, a proposta de vários livros, é apenas e humildemente nos entreter.

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  6. Amei o post. Concordo plenamente, não existem literaturas boas ou ruins, existem literaturas e ponto final. É claro que a gente tem que avaliar pela maneira com que o autor escreve e desenvolve a história, mas isso vai de pessoa pra pessoa. Eu, por exemplo, amo ler romances e ação, mas quanto a literatura fantástica, somente alguns me atraem, e nunca ousei dizer que eram ruins, é apenas gosto. Cada um com seu gosto e sensibilidade para gêneros de livros!

    Beijos, Hannah.
    @secretsofbook
    http://secretsofbook.blogspot.com

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