Romeu e Julieta: Prova de Amor?

Sempre fui apaixonada por Shakespeare e por suas obras que li. Minha favorita, por muito tempo, foi a clássica “Romeu e Julieta”. Ano passado, ao relê-la, pela primeira vez me deparei com um sentimento desconhecido por mim sobre essa incrível história de amor: a desconfiança. Tal sentimento foi uma surpresa, visto que jamais esperava não acreditar na maior história de amor de todos os tempos.


Primeiro de tudo, notei pela primeira vez a personalidade melancólica de Romeu. O protagonista inicia a história apaixonado por Rosalina e sofrendo pela escolha dela em entrar para o convento, impossibilitando, assim, o romance dos dois. E, por todo o enredo, através de todas as complicações surgidas, Romeu se deixa levar pelas dificuldades ao invés de tentar superá-las. Dessa forma, não conseguia encará-lo como um homem, e sim como um garoto, imaturo, o que era, de fato, considerando-se sua idade. Porém, na época em que o romance se passa, não podemos esquecer que a concepção de idade era diferente dos dias atuais. Tudo acontecia mais cedo, garotas de 14 anos, como a própria Julieta, já estavam se casando. Dessa maneira, acredito que, apesar da pouca idade, o amadurecimento vinha mais cedo também, o que não vi em Romeu.
Depois, e, principalmente, pela primeira vez o amor dos dois soou falso para mim. Em um minuto,  Romeu suspirava e sofria por Rosalina. No minuto seguinte, já a havia esquecido e amava intensamente Julieta. Sou das que acredita em amor a primeira vista, mas não consigo acreditar na aceitação tão fácil desse sentimento, como no caso de Romeu. É claro que essa é uma peça, e não um romance e, portanto, não temos o acompanhamento interno das personagens, nos revelando suas emoções e pensamentos. Porém, o que quero dizer é que o sentimento que vi nascer entre eles não foi o amor, e sim a paixão.
“Amor” e “paixão” são sentimentos diferentes, ainda que possam coexistir. A paixão, da mesma maneira que surge, pode se acabar. A paixão, a meu ver, não tem raízes e normalmente depende de um estado ilusório. A ilusão é o que alimenta a paixão e, acabada, leva embora o sentimento. Já o amor, o real amor, acredito que não tenha fim. Isso não significa se sentir eternamente apaixonado, suspirando por alguém. O amor é um sentimento mais profundo, esse sim com raízes, e que não depende de nada para existir, simplesmente existe.
O que mais me levou a refletir, ao terminar minha leitura, foi sobre a atitude final do casal. Por que a morte foi considerada prova de amor? Onde isso provou algum amor? Só o que eu conseguia pensar era em como ambos foram fracos em tomar essa atitude. Sim, é muito mais fácil simplesmente tirar sua vida, em uma atitude completamente egoísta, já que não se pensa no sofrimento das pessoas ao seu redor gerado por essa atitude, do que conviver e superar o fato. A maior prova de amor de ambos, para mim, seria se escolhessem passar o resto da vida juntos, buscando superar todas as dificuldades encontradas. Se mesmo com uma vida completamente dificultada, o que provavelmente aconteceria, uma vez que as famílias não aceitariam o romance, além de Romeu ter sido exilado de Verona, ainda assim os dois continuassem a se amar e permanecessem juntos, lado a lado, então sim, eu veria o amor de ambos e consideraria isso como uma prova de sua existência.
Nos dias de hoje, essa continua sendo a maior prova de amor que pode existir, em minha opinião: superar as divergências do dia-a-dia. Basta ver quantos casamentos são realizados e o crescente número de divórcios que o seguem. As pessoas são diferentes e estão sempre em busca de uma felicidade idealizada. Aquelas que conseguem valorizar a realidade ao seu lado, que conseguem amar mesmo após um árduo dia de trabalho ou de uma vida inteira cheia de dificuldades, essas sim considero como provadoras de seu amor.
Amar, para mim, se demonstra no dia-a-dia, nas pequenas coisas, e não na morte. É romântico pensar que alguém tirou sua própria vida por não conseguir suportar a ideia de viver sem a outra pessoa? Pode até ser que sim. Mas, para mim, mostra muito mais a incapacidade dessa pessoa em lidar com seu sofrimento do que o amor que sente pela outra.
O sentido do amor é dar forças, independente de qual a situação. Aliás, a visão que tenho desse sentimento é a de uma dádiva, por tantos outros bons sentimentos que ele desperta. Amor gera forças, amor gera paz interior. Amor gera compaixão, gera felicidade, gera compreensão. Amor gera amor.
Não estou aqui para contestar a óbvia genialidade de Shakespeare. “Romeu e Julieta” se tornou um clássico e não se tornaria caso não fosse grandioso como o é. Minha reflexão, depois de terminada a leitura, foi se o amor dos dois duraria caso passassem o resto de suas vidas juntos, pois o que o comprovou, na obra, foi a morte prematura do casal, e não suas atitudes em vida. Essas eram dignas da paixão de dois jovens impulsivos, e não de um amor amadurecido.
Assim, termino esse texto com a seguinte reflexão: o que mais valida o amor, tomar atitudes impensadas e impulsivas ou superar as dificuldades impostas pela vida? Acredito que não haja uma resposta certa, ela variará de acordo com o que cada um acredita, sente e já vivenciou. Portanto, o mais válido para cada um não é que haja uma fórmula que defina o “amor”, mas sim o que se pode aprender com ele.

Stace Jay, provavelmente frente a essa contradição, criou o romance “Julieta Imortal”, onde o amor de Romeu e Julieta é visto por uma ótica totalmente diferente. Assim, não deixe de participar da promoção que está acontecendo aqui no Gossinp. Você pode levar para casa um kit do livro e ter a chance de conhecer a história pela visão da audaciosa autora.

17 comentários:

  1. Caramba que post mais original! Concordo com você.... Também acho que devemos buscar nas coisas simples do dia-a-dia, demonstrar nossos sentimentos amorosos. Também não acho que foi uma atitude para provar o amor. Eu não gostaria que alguém se matasse por mim (boiei, tá), acho que preferiria que essa pessoa buscasse a alegria de outras formas e não refugiar-se à morte.
    Adorei o post, Aione! Nem preciso dizer que suas reflexões são mágicas, né? Esse post já provou isso.



    Beijinhos, Amanda Cristina.
    www.primeiro-livro.com

    ResponderExcluir
  2. Nossa *-------------* Adorei o texto. Sério, li num segundo, nem consegui parar, realmente o Romeu é bem melancólico para mim também.
    "Amor gera forças, amor gera paz interior. Amor gera compaixão, gera felicidade, gera compreensão. Amor gera amor." Adorei, adorei.
    PS: Estou louco para ler Julieta Imortal da Stace Jay *-* Participarei da promoção.
    Lindo post, lindo gif. Meus parabéns, abração.
    Sucesso sempre :D

    Ewerton Lenildo - Academia de Leitura
    papeldeumlivro.blogspot.com
    @Papeldeumlivro

    ResponderExcluir
  3. Ok, fiquei sem palavras pra comentar esse post. Certo, vamos lá. Eu adorei. Eu gosto de ler as obras de Shakespeare, são bem intensas. Em Romeu e Julieta é fácil notar o quão intenso e louco pode ser essa coisa chamada amor né? Sei lá, um misto de imaturidade -dos personagens- com intensidade.

    ResponderExcluir
  4. Mais uma vez a Mi arrasa!!!!
    Muito inteligente expôr a contradição do amor entre Romeu por Julieta. Eu tenho o livro aqui e ainda não li, agora fiquei com vontade.
    Eu ganhei Julieta Imortal numa promoção, quero ver se leio o original antes da paródia. :D
    Bjão, pra Mi, que arrasou na coluna!

    ResponderExcluir
  5. Parabéns pelo post :)
    Muito original como já comentaram e bem..,bem... bom AHUSHUAHS fugiu a palavra, mas tudo bem.
    Adorei e não sei por que mas Romeu e Julieta é muito linda e tals, mas...sei lá, acho que simplesmente não gosto quando as histórias não terminam do jeito que eu gostaria kk
    Mas o amor é um sentimento que realmente não podemos explicar. Só sentir. E mesmo quando sentimos, é confuso.
    Concordo com você quando disse que a maior prova do amor, do verdadeiro, é superar os problemas do dia a dia. É muito bom e muitas vezes difícil conviver e viver com as pessoas. Mas enfim, muito bom o post, amei!
    Beijos :*

    ResponderExcluir
  6. O post foi maravilhoso,
    fazia tempo que não lia algo tão bem argumentativo.
    Parabéns flor, ficou ótimo.
    beijos
    boa semana viu?

    ResponderExcluir
  7. Bom dia...

    Vou confessar que tenho uma certa preguiça de ler Romeu e Julieta!
    A linguagem deve ser maio cansativa..
    Sei lá!
    Mas é uma da nminhas metas de leitura da vida (a Bíblia tb está na meta)!
    Mesmo sabendo da história por filmes e afins, acho q nada como ler o original e tirar as próprias conclusões!

    Tenho a mesma opinião sobre amor e paixão...
    E acho que são sentimentos facilmente confundidos!

    beijaum

    ResponderExcluir
  8. Oi, Mi!
    Primeira coisa: amei o seu texto. Lindo! Parece que você tirou todas as minhas reflexões sobre a história de "Romeu e Julieta" e pôs aqui no blog! Enquanto lia "Julieta Imortal" tive as mesmas reflexões que você. Nós estávamos acostumados a encarar o clássico de Shakespeare como a maior história de amor que pode existir. Porém, a atitude que os dois tomaram, não foi uma prova de amor ao meu ver. E sim uma demonstração de fraqueza.

    Parabéns pela sua coluna e pelo seu texto!
    Beijos!

    ResponderExcluir
  9. Você é incrível! Tenho mesmo pensamento seu.
    Parabéns!

    ResponderExcluir